Nesta semana a comunidade santanense ficou comovida com o caso de Vanderléia Buenavista Ferrão, que faleceu após tentar atravessar uma enchente na região do Cerro dos Munhoz
O céu estava fechado, cor de chumbo, quando o casal Anderson e Vanderléia encilharam seus cavalos e saíram para o campo para buscar um gado na região do Cerro dos Munhoz. Mal sabiam eles o que o destino lhes reserva naquele dia. Era segunda-feira 24 de Setembro, por volta do meio dia quando os dois se separam próximo a um campo encharcado após a chuva de 110mm que castigou a região no dia anterior. Enchente grande, arroio transbordando, realidade dura de quem ganha a vida na campanha.
Foi quando Vanderléia Buenavista Ferrão 44 anos, acostumada com este tipo de cenário tentou cruzar a cavalo a enchente que cobria grande parte da estrada e do banhado, e numa manhã fatídica de Setembro ela acabou sendo levada pelas águas.
Seu marido, Anderson Nei Severo Ferrão, 44 anos, com quem Vanderléia era casada há 21 anos, relatou a reportagem do Jornal A Plateia que esteve no local acompanhando as buscas, que foi avisado via telefone por amigos logo em seguida do desaparecimento da esposa. Ele estava a sua espera na casa de um vizinho quando recebeu a notícia. “A gente vinha trazer um gado para um vizinho, daí acabamos nos separando e combinamos de nos encontrar na casa desse vizinho. Eu vinha mais embaixo pela taipa da barragem e atravessei para juntar o gado, ela acabou saindo de lá para me encontrar e tentou passar aqui. Dois rapazes que são conhecidos nossos avisaram ela para não passar porque o arroio estava cheio. Ela respondeu que ia atravessar devagarzinho e eles ficaram olhando e quando viram a égua afundou com ela. Depois mais embaixo a égua apareceu se debatendo em cima da água e conseguiu sair mais em baixo para terra firme. E não avistaram mais a Vanderléia” contou Anderson bastante emocionando ao lembrar o fato.
Início das buscas
Ainda sem muita divulgação na imprensa local começaram as primeiras buscas pelo Corpo de Bombeiros na tarde de segunda-feira, mas foi na manhã do dia seguinte que o caso ganhou repercussão e a procura foi intensificada por Bombeiros de Santana do Livramento e uma guarnição da cidade de Quaraí com a ajuda de familiares e moradores da região. Um bote a motor foi utilizado para busca embarcada e cordas e ganchos afim vasculhar o fundo do arroio. Com o tempo passando as chances de encontrar Vanderléia viva eram cada vez menores.
Utilização de Mergulhadores
Na manhã de quarta-feira (26) uma guarnição de mergulhadores do grupamento de Busca e Resgate de Santa Maria chegou ao município para auxiliar a procura, desta vez no fundo do arroio que é um afluente de uma grande barragem que irriga a região nos Cerro dos Munhoz. Os mergulhos começaram nas primeiras horas do dia e se estenderam por toda a manhã. Segundo os mergulhadores a profundidade e o leito sinuoso do arroio dificultaram bastante as buscas.
O Soldado Fioravante do Grupamento de busca e resgate do Corpo de Bombeiros, disse que o local apesar de ser bastante estreito apresentava inúmeros obstáculos aos mergulhadores desde terreno irregular a presença de paus, pedras e outros tipos de materiais no fundo do arroio. “Neste local existem escombros de uma ponte que caiu, bastante paus atravessados, troncos de arvores e bastante arrame farpado. Apensar de ser uma área pequena e com uma profundida de no máximo 5 metros, o problema é o que foi depositado antes ai no arroio. Isso dificulta bastante as buscas” comentou.
Após todas as tentativas de vasculhar o fundo os esforços também foram redobradas as buscas pelo leito do arroio uma vez que a tendência com o passar dos dias o corpo subisse para superfície.
Moradores determinados a encontrar Wanderléia
Anderson Ferrão, marido de Wanderléia, juntamente com um grande número de moradores realizaram buscas pelas matas, banhados e arredores durante uma espera que parecia não ter fim. Com as horas passando e todos os recursos sem sucesso, os moradores apelaram para a fé realizando um antigo ritual supersticioso com um porongo e uma vala benta dentro. Neste tipo de ritual acredita-se que onde o objeto parar ele indica o local onde está o corpo da pessoa que se afogou. Apesar do ritual supersticioso, o corpo não foi encontrado dentro do arroio e as buscas continuaram nas margens. Por volta das 16h30, da tarde de quarta-feira (26) três moradores que procuravam próximo a barragem encontraram o corpo de Wanderléia semienterrado na areia cerca de 30 metros da barragem e bem distante do local onde ela foi vista pela última vez. Ela foi sepultada no dia seguinte na presença de amigos e familiares.
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