Agrônomo, pesquisador, folclorista e radialista, ele foi um dos idealizadores do movimento que hoje está espalhado pelo mundo
O Rio Grande do Sul acompanhou no início da semana várias homenagens feitas ao tradicionalista João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, que morreu na segunda-feira, 27, aos 91 anos, em consequência de complicações advindas de uma cirurgia no fêmur. Natural de Sant’Ana do Livramento, Paixão foi um dos idealizadores do movimento tradicionalista gaúcho, juntamente com Luiz Carlos Barbosa Lessa e Glauco Saraiva. Em 1948, ele organizou e fundou o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) 35 e, em 1953, fundou o pioneiro Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição.
O falecimento do tradicionalista motivou uma grande mobilização de integrantes de entidades ligadas à história e à cutura do povo gaúcho. O governo do Estado do Rio Grande do Sul decretou luto oficial de três dias. Da mesma forma, o Poder Executivo Municipal em Sant’Ana do Livramento expediu decreto de luto oficial por três dias no município.
Ao meio-dia de terça-feira, 28, data do sepultamento de Paixão Cortes, ocorrido na Capital do Estado, representantes da Prefeitura Municipal, da Câmara de Vereadores e de várias entidades tradicionalistas de Livramento se reuniram junto à estátua que homenageia o ilustre folclorista, na entrada da cidade, para prestar uma reverência oficial da comunidade santanense.
A solenidade foi coordenada em conjunto entre a Prefeitura Municipal e a Comissão Organizadora da Semana Farroupilha de 2018, que deverá também concentrar várias homenagens ao tradicionalista. Um outro segmento do movimento tradicionalista de Livramento também chegou a programar atividades em homenagem a Paixão, prevendo uma concentração de cavalareiros junto à estátua de Paixão, na avenida João Goulart, mas acabou suspendendo os eventos para não repetir a programação desenvolvida pelo Poder Público.
O corpo de Paixão Côrtes foi velado no Salão Negrinho do Pastoreio, no Palácio Piratini, em Porto Alegre, e sepultado no fim da tarde de terça-feira.
Legado
Paixão Côrtes leva o reconhecimento do povo gaúcho principalmente por sua contribuição para o resgate e projeção dos principais valores culturais, artísticos e morais do povo riograndense. O presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Nairo Callegaro, exaltou o legado deixado por ele e lembrou que Paixão Côrtes “levou para o mundo quem era o gaúcho”, mostrando “o tipo que habita no Sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul”, sua história, cultura, uso e costumes. “Todo esse legado nós temos a reponsabilidade de manter vivo”, concluiu.
Uma vida de paixão pela cultura gaúcha
João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes nasceu em Livramento, no dia 12 de julho de 1927. Era agrônomo, mas ficou conhecido por ser folclorista, compositor, radialista e pesquisador, considerado como um dos ícones da cultura e dos costumes gaúchos. Paixão Côrtes é um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul, do qual foi um dos formuladores, juntamente com Luiz Carlos Barbosa Lessa e Glauco Saraiva. Juntos, partiram para a pesquisa de campo, viajando pelo interior do Estado para recuperar traços da cultura do Rio Grande.
Em 1948, organizou e fundou o CTG 35 e, em 1953, fundou o pioneiro Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição. O trabalho de pesquisa realizado por ele e seus companheiros resultou na publicação de várias obras e gravações. Em 1956, Inezita Barroso gravou as músicas tradicionais gaúchas Chimarrita-balão, Balaio, Maçanico e Quero-Mana, Tirana do Lenço, Rilo, Xote Sete Voltas, Xote Inglês, Xote Carreirinha e Havaneira Marcada, entre outros ritmos recolhidos por Paixão Cortes e Barbosa Lessa. Ela voltaria a gravar, também, em 1962, quando registrou as composições Tatu e Pezinho,
O santanense levou a cultura gaúcha para o mundo. Em 1958, apresentou-se no Olympia de Paris, no palco da Universidade de Sorbonne, no Hotel de Ville, no Teatro Alhambra, além de clubes noturnos e cabarés. No mesmo ano foi convidado pelo falecido empresário da comunicação Maurício Sirotsky Sobrinho para apresentar o programa “Festança na Querência”, na Rádio Gaúcha, permanecendo no ar até 1967.
Paixão Côrtes recebeu vários prêmios por seu trabalho. Em 1962, recebeu o prêmio de Melhor Realização Folclórica Nacional. Em 1964, apresentou-se na Alemanha, na Feira Mundial de Transportes e Comunicação, na cidade de Munique. Recebeu ainda, no mesmo ano, o prêmio de Melhor Cantor Masculino de Folclore do Brasil. Em 1986, apresentou-se durante um mês na Inglaterra, divulgando traduções de seus livros para o inglês.
Em 1992, a estátua do Laçador, do escultor Antônio Caringi, para a qual Paixão Cortes posou em 1954, foi escolhida como símbolo da cidade de Porto Alegre. Em 2001 proferiu palestra sobre a música gaúcha no VII Encontro Nacional de Pesquisadores da MPB, realizado no Teatro da UERJ. Em 2003 lançou seu novo manual, com mais danças, derivadas do primeiro. Por exemplo, Valsa da mão trocada, Mazurca Marcada, Mazurca Galopeada, Sarna, Grachaim. Em 2010 foi escolhido patrono da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre e recebeu também a Ordem do Mérito Cultural, entre muitas outras homenagens.
Em 2013, foi inaugurada uma estátua do tradicionalista na entrada de Livramento. A ideia partiu do patrão do CTG Presilha do Pago, Rui Rodrigues, e do jornalista Duda Pinto com o objetivo de reconhecer trabalho desenvolvido durante toda sua vida como folclorista e tradicionalista, tanto de fixação dos elementos formadores da identidade gaúcha, quanto de valorização e divulgação dessa cultura nos mais diferentes momentos e locais brasileiros e mundiais, que suas andanças e mensagens puderam alcançar.
A obra, criada pelo arquiteto e artista plástico Sérgio Coirolo, consiste em uma estátua de cerca de 3,5 metros, reproduzindo a figura atual do folclorista em saudação hospitaleira aos visitantes.
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