Prestes a completar mais um aniversário, Santana do Livramento possui uma ligação muito forte com a Estação Férrea por onde o progresso chegou ao som dos apitos dos trens
Muitas pessoas que hoje passam na frente da velha estação férrea com seu importante prédio que pode ser avistado de longe não imaginam que ali outrora foi o coração pulsante de Livramento. O apito do trem anunciava partidas e chegadas, encontros e desencontros e podia ser ouvido ao longe quando ecoava por uma Santana em plena expansão.
A estação de Livramento foi inaugurada em 30 de outubro 1910 como ponta do ramal entre as Cidades de Cacequi e Livramento. Em maio de 1912, foi inaugurado o tráfego mútuo entre Livramento e Rivera, fazendo com que os trens pudessem ligar o Rio de Janeiro e São Paulo a Montevideo e dali a Buenos Aires. Em 1925, Livramento foi Ligada a Dom Pedrito e a São Sebastião por outro ramal. No final dos anos de 1970 este ramal foi erradicado e Livramento, hoje apenas se liga com Cacequi e com as ferrovias Uruguaias.
Os trilhos do ferro-carril central del Uruguai, (bitola de 1,435 m) chegavam até o Frigorifico Armour, de onde partia diariamente (pelo menos até aos anos de 1930) um trem frigorifico com destino ao porto de Montevieo.
“Aqui era o coração da cidade”
Quem lembra muito bem como eram os dias no entorno da Estação Férrea, é seu Adão Athaide de 73 anos , que se emociona ao lembrar do pai que foi ferroviário por quase 30 anos e praticamente acompanhou o desenvolvimento da cidade ao redor da estrada de ferro.
Seu pai João Carlos Athaide trabalhou mais de 30 anos em torno da estrada de ferro, primeiro como feitor (administrava as linhas da ferrovia) e em seguida como “Tuco “(trabalhador que protege a linha e verifica irregularidades e troca dormentes). “Meu pai conhecia toda essa linha, ele era de São Sebastião do Caí e sempre trabalhou como ferroviário. Ele mesmo me contava que veio para cá no tempo do batalhão ferroviário. Ele ajudou a construir a linha. Nós passava só viajando de trem, nas férias era uma festa quando a gente pegava o trem aqui e ia para Porto Alegre. Era muito lindo. Lembro que eu vinha trazer comida para o mau pai aqui na estação e nesta época e embarcava no trem e descia lá no Armour porque a gente morava lá” lembrou.
Segundo seu Adão as imagens daquele tempo ainda estão muito vivas em sua memória” Bem aqui ao redor da praça era uma cidade. Tinha uma barraca muito grande de madeira que era da família “Cadimarte” e bem na frente ficavam estacionados os “alto de praça” ( Taxis) . Por esses prédios eram um monte de gente descarregando frutas e verduras e tudo quanto era produto que vinha de trem, porque não existia caminhão. Ai encostavam as carroças aqui, aquelas que eram puxadas por burro e faziam os fretes. Esse aqui era o coração da cidade. O que a gente pode ver aqui hoje é um verdadeiro museu a céu aberto” encerrou.
“A gente viajava por todo esse Rio Grande”
Morando hoje no prédio que abrigava a antiga casa do “Mestre de Linha” da estação, seu Adenir da Rosa ‘diz se relembrar muito bem de como era a vida ao redor dos trilhos tempos atrás . “Meu pai, Olinto Trindade da Rosa trabalhou na via férrea com feitor que era o encarregado da turma. Já nessa casa morava o finado Epitáfio que era mestre de linha que comandava todos os funcionários. Lembro que a gente viajava bastante, Cacequi, Santa Maria, Ijuí, Cruz Alta, Porto Alegre. Lembro quando a gente ia visitar os parentes em Santa Maria que a gente saia daqui de manhã e chegava lá de notinha era uma viajem bem tranquila. Se fazia uma galinha com farinha e a gente adorava essa função” relembrou
O certo que muitas histórias rodeiam as paredes seculares do Prédio da Antiga Estação, hoje Estação Cultura que guarda em interior nacos da história da viação férrea do nosso estado tal qual um retrato amarelado de um tempo que se foi para nunca mais voltar.
Por: Matias Moura – [email protected]