Dia desses, conversando com um empresário cuja opinião é que todos os políticos são corruptos, perguntei quais os políticos corruptos com quem ele convivia diretamente. Não soube me responder. Ao contrário, inquirido sobre políticos reais, testemunhava a favor da honradez e seriedade do sujeito, seja vereador, deputado ou prefeito.
Essa experiência me chamou a atenção para um fenômeno que está profundamente internalizado na narrativa do senso comum sobre a atividade política no Brasil contemporâneo. No geral, os políticos são todos culpados, ou pelo menos suspeitos. Esse fenômeno é compreensível no contexto de propaganda que a grande mídia faz contra a atividade política. Creio que já faz uns cinco ou seis anos que todas as noites o Jornal Nacional, para citar apenas um programa, apresenta o caso de algum político que supostamente praticou mal feitos em sua atividade como deputado, vereador, prefeito, governador ou mesmo presidente.
Essa insistência sistemática e ampla (porque se reproduz em toda a programação dos principais canais abertos) acaba por tornar geral casos específicos, torna o erro de um político particular em um erro da atividade política em geral, como se fosse impossível fazer política com honradez.
Paralelamente aos mal feitos, os grandes meios monopolistas de comunicação, divulgam a situação crítica, por vezes trágica, da realidade do povo brasileiro, obrigado a conviver com saúde, educação e segurança precários, estabelecendo um nexo entre uma coisa e outra, ou seja, entre a prática de corrupção dos “políticos em geral” e a carência de políticas públicas que respondam às necessidades das populações que mais precisam.
O resultado é esta percepção de que todos os políticos são corruptos e desviam o dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação e segurança. Esta visão, entretanto, é muito funcional para determinados interesses que são, também, políticos e até ideológicos. A generalização desta compreensão serve, por exemplo, para mobilizar a população contra governos que, eventualmente, estejam fazendo política contra os interesses dos grandes capitalistas, como foi o caso recente de Dilma.
Com a generalização desta ideia de que todos os políticos são corruptos, os grandes meios de comunicação, que representam, na verdade, os interesses dos grandes conglomerados privados (que os sustentam através da propaganda), acabam por reforçar as suas próprias teses, baseadas na desconstituição do espaço público como o espaço das decisões sobre os interesses da comunidade.
É assim, por exemplo, que se reforça a ideia de que o imposto não é legítimo, que empresas públicas são apenas “cabides de emprego”, que o Estado precisa ser o mínimo possível, etc, etc. Este é o discurso que ouvimos todos os dias dessas pessoas que ao desdenharem da política querem, na verdade, ocupar o seu papel na estruturação dos espaços de decisão sobre os interesses de todos. Em última instância fazem política, mas da pior forma possível que é fazendo de conta que não a estão praticando.
A verdade é que a maior parte dos políticos cumpre o seu papel de representação com honradez e ética. Os corruptos são pontos fora da curva e podem existir em qualquer partido. Os corruptos precisam ser combatidos e punidos e até neste caso é possível identificar as diferenças. Não por outro motivo, por exemplo, foi Lula e Dilma os presidentes que mais investiram para qualificar o trabalho da Polícia Federal e deram autonomia para o Ministério Público. Alguém se lembra de como funcionavam essas duas instituições no governo de Fernando Henrique Cardoso, Sarney ou mesmo nos governos militares?
A corrupção existe, também, e muito, fora da política, nas relações empresariais, comunitárias e até na relação entre indivíduos. Não é uma exclusividade da política. Mas para fazer política sem dizer, para impor seus pontos de vista sem precisar buscar a legitimidade da representação (que só se alcança através da atividade política, intermediada pelos partidos), os grandes grupos empresariais privados insistem com essa ladainha de que todos os políticos são iguais e são corruptos.
Não são. Basta que você olhe para os lados, para os políticos que conhece. Evidente que poderá encontrar um ou outro que pratica mal feitos, que olha para os seus interesses acima dos seus representados, que usa da estrutura pública para fomentar os seus próprios interesses. Mas esses não são a maioria. E é contra esses que você deve votar. Se você entrar na conversa de que todos os políticos são iguais, você vai acabar entregando o direito de decidir sobre o seu futuro para os grandes grupos privados que estão, sempre, de olho no seu dinheiro e não no seu bem estar.
Lembro sempre da frase que um dia o ex-governador Olívio Dutra, esse grande exemplo de político honrado e trabalhador, disse-me: “Quem desdenha quer comprar. Cuidado com os que falam mal da política”.
A Liberdade de Imprensa é um dos pilares da Democracia
A liberdade de imprensa é mais do que um direito fundamental, é um alicerce indispensável para o funcionamento de qualquer sociedade democrática. Em sua essência, é a garantia de que jornalistas e meios de comunicação podem atuar sem medo de censura ou repressão, permitindo que a verdade seja revelada e que o poder seja questionado. Em tempos de desinformação e