A divulgação de dois casos suspeitos de infecção pela variante Delta do coronavírus, considerada a mais transmissível e identificada inicialmente na Índia, causou preocupação entre as autoridades do Rio Grande do Sul e já impactou na organização da campanha de imunização contra a covid-19.
Desses casos, um dos pacientes é morador de Sant’Ana do Livramento e, de acordo com a equipe epidemiológica do município, ele está em acompanhamento e teve seus contatos rastreados, testados e isolados.
No início dessa semana, em coletiva de imprensa realizada no Salão Nobre da Prefeitura, o secretário municipal de Saúde, Paulo Vargas, evidenciou o gerenciamento feito pelos órgãos responsáveis, frisando que o caso em questão é suspeito e sem confirmação até o momento.
O que diz o Lacen
Tatiana Schäffer Gregianini, pesquisadora responsável pelos diagnósticos de vírus respiratórios do Estado, destaca que, após o paciente realizar um teste que confirme resultado positivo e seja detectado uma carga viral considerável, se solicita outro exame PCR para identificar se há uma possível variante de preocupação. “No caso desse santanense, no exame PCR houve um descarte de P1 circulante e uma indicação que seja a variante Delta. Então, agora aguarda-se a confirmação do sequenciamento para dizer se é a variante Delta, se é uma outra linhagem, ou até mesmo uma outra variante que tenha características parecidas. A triagem prévia que fizemos sugere que seja uma variante Delta”, explicou Gregianini.
A variante Delta tem uma característica bem mais transmissível que a P1 (Covid), ela possui uma capacidade de se ligar nas células, ou seja, no hospedeiro humano, com bastante facilidade. “Com um tempo de exposição menor da pessoa, há uma chance maior dela se contagiar diante dessa variante. Esse vírus tem uma facilidade maior de entrar nas células humanas, do que as outras variantes que estão circulando”, destaca Tatiana.
Sintomas
Segundo Tatiana Gregianini, os sintomas da variante Delta são semelhantes à Covid, ou seja, apresenta um quadro muito diversificado de sintomas. Há pessoas que apresentam dores mais na região da cabeça, outras na região do pulmão e outras mais relacionadas a dores no corpo todo. Assim, a Covid torna-se muito variável em termos de sintomas.
“Portanto, nesses casos, os sintomas não são indicativos e nem servem de orientação para médicos e profissionais da saúde para dizer qual seria a variante. Cada pessoa vem respondendo de uma maneira diferente”, conclui a doutora Tatiana.
O que dizem os médicos
O médico pneumologista, Tiago Silveira de Araújo Lopes, explica que esse comportamento de mutação era esperado. “Nós sabíamos que isso iria acontecer. O vírus tem um comportamento epidemiológico de causar a pandemia por um tempo e depois a coisa começa a decrescer, junto à necessidade de hospitalizações e as mortes”, explicou o médico pneumologista Tiago Lopes.
“Mas, ao mesmo tempo, nós sabíamos também que o vírus ia se modificar, esse é o comportamento do vírus em geral, ele sofre mutações para se adaptar melhor ao hospedeiro, que somos nós. Existe um relato dessa cepa, que afetou a Índia e o Reino Unido principalmente, se tornando a variante predominante, com estimativa desse comportamento se repetir no mundo inteiro. Imagina-se que essa cepa venha a ser predominante”, acrescenta Lopes.
Segundo o médico, os sintomas são como os de qualquer virose. “É difícil de individualizar e dizer que existe algum padrão dos sintomas. Vi circular pelas redes sociais que não teria tanto a perda de paladar e olfato, mas na verdade não há nada oficial até o momento. O importante é que todos que venham a ter um quadro gripal, devem buscar ajuda das autoridades da Saúde e se isolar preventivamente, mesmo que não se confirme Covid, mas em qualquer quadro gripal, a pessoa tem que adotar o isolamento”, destacou.
O médico ainda acrescenta que não há motivos para a população entrar em pânico com a nova variante. “Acho que a população não precisa entrar em pânico, não há motivo. Confiem nas autoridades que está a cargo da situação. Essas mutações no vírus eram totalmente esperadas”, concluiu o médico.
Vacinação é adiantada
Com as novas informações sobre a variante, o Rio Grande do Sul seguiu o exemplo de outros Estados e decidiu antecipar o calendário da segunda dose das vacinas AstraZeneca e Pfizer a fim de reforçar a proteção contra novas variantes que possam ingressar no Estado. Segundo novos estudos para uma ação mais eficaz contra a variante Delta, é necessário ter a segunda dose do imunizante. A orientação da Secretaria Estadual da Saúde é para a redução de duas semanas no intervalo das doses desses imunizantes, ou seja, ao invés de 12, as pessoas devem procurar aos postos de saúde assim que completar as 10 semanas após a primeira.
Débora Castro
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