Reflexos do movimento foram sentidos em vários setores da economia. No acordo, governo adotou medidas para reduzir em R$ 0,46 o preço do litro do óleo diesel nas refinarias
A greve dos caminhoneiros parou o Brasil por 11 dias. Na quinta-feira (31), ela perdeu totalmente a força, com menos protestos nas rodovias e uma maior saída de combustíveis das refinarias, os serviços começaram a retornar lentamente à normalidade. A categoria era contra o aumento dos preços do diesel, no entanto os bloqueios que paralisaram o país também abalaram o governo de Michel Temer.
A reportagem elaborou um resumo sobre os principais fatos que tiveram destaque nesta última semana em Santana do Livramento.
Manifestação da população em geral
Na manhã de sábado (26), diversas entidades de Livramento demonstraram apoio aos caminhoneiros no protesto contra a elevação do combustível e contra o atual governo brasileiro. Os manifestantes começaram se reunir em frente à Prefeitura Municipal, às 10h, depois percorreram a Rua Rivadávia Correa, Vasco Alves, Andradas e retornaram ao ponto de partida onde pronunciaram suas manifestações em um ato que durou aproximadamente 10 minutos.
O protesto foi em forma de caminhada pacífica, onde os pedestres levavam balões com as cores da bandeira do Brasil. Também houve buzinaço dos caminhoneiros e carros de passeio.
Pessoas nas ruas e comerciantes também aplaudiam e apoiavam da frente das lojas e pelas calçadas centrais.
Manifestação no Trevo da Faxina
Também no sábado (26), após manifestantes protestarem no centro da cidade de forma pacífica juntamente com caminhoneiros e veículos de passeio, eles foram até o trevo da faxina. No local, participaram de um almoço e contaram com adesão de um número cada vez maior de pessoas se juntando a causa.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) esteve prestando apoio até o local da manifestação para negociar a passagem de combustíveis. O Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar (POE) e a Patrulha Tático Móvel (PATAMO) estiveram reunidos em quartel.
Gasolina chega a Livramento depois de cinco dias de greve
Na noite de sábado (26), chegaram os primeiros caminhões com combustíveis a Livramento depois de estarem parados na estrada desde a paralisação da categoria. No posto Larratea, foi disponibilizado a venda de gasolina a partir das 6h de domingo (27), com liberação de R$100 para automóveis, somente no tanque do veículo. Não estava sendo vendido combustível em galões ou qualquer outro recipiente. No posto Rosul do Fortim, às 2h, de domingo (27) e da Vasco Alves também foi limitado o abastecimento em R$ 100 por veículo.
Caminhões escoltados
Na noite de sábado (26), por volta das 22h, chegaram quatro caminhões de combustíveis em Santana do Livramento escoltados pelas equipes da PF, PRF, PM e BM. Os agentes concluíram com sucesso a missão desde São Gabriel. O trabalho se iniciou ainda pela manhã com o acompanhamento de manifestações e se encerrou somente após o abastecimento de todas as viaturas da PF/LIV e demais viaturas policiais. Os caminhões foram destinados aos postos Rosul do Fortim, Vasco Alves e Larratea.
Muitas pessoas já esperavam ansiosas nos postos para abastecer seu veículo. Filas de carros aguardavam sua vez para garantir o combustível.
Santanenses atravessam a Fronteira para abastecer
Na tarde de segunda-feira (28), após brasileiros e uruguaios ficarem sem combustíveis, um novo caminhão para abastecer o posto ANCAP, localizado na esquina da Praça Flores com Agraciada, chegou por volta das 14 horas.
Muitas pessoas formaram filas que percorreram quadras pelas Ruas Agraciada, Lavalleja e Sarandi. Teve consumidor que esperou até 6 horas para garantir o tanque cheio. Alguns consumidores levaram galões para abastecer até 15 litros, que era o limite determinado pelo posto. Para abastecer direto no tanque do veículo não tinha limite de litros. A gasolina estava sendo vendida a R$ 6,30 o litro.
Protesto na Kennedy
Na manhã de segunda-feira (28), um grupo de caminhoneiros e manifestantes negociou com a PRF uma manifestação em rua paralela à Rodovia 158. Policiais informaram ao grupo que eles não poderiam impedir a passagem de carros, desta forma, os policiais fariam a segurança dos manifestantes no trecho da Rodovia.
O Deputado Edu Olivera esteve no local e liderou a negociação, apresentando-se também como advogado dos manifestantes naquele momento. De início a conversa foi tensa, mas os caminhoneiros entenderam a situação e concordaram em fazer uma manifestação sem interromper a via pública.
Supermercados ficaram desabastecidos
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, informou que os problemas de abastecimento de mercadorias para supermercados gaúchos agravaram-se em decorrência da paralisação em todo o Brasil. O dirigente salientou que os supermercados possuíam estoque médio de segurança de 15 dias nos produtos não perecíveis, em que se enquadram itens de mercearia (massas, biscoitos, grãos, leite, açúcar, bebidas, farináceos, matinais, condimentos, doces, bombonière, etc.), higiene e beleza, limpeza, bazar e não alimentos em geral. “Com relação a estes produtos, não há risco de desabastecimento para o consumidor final em um curto prazo”, destaca Longo.
A situação mais preocupante recaiu sobre os perecíveis, que não são estocados pelos supermercados por seu curto prazo de shelf life. Houve desabastecimento em itens de hortifrúti, carnes, frios e laticínios refrigerados.
Pronunciamento de Michel Temer
No último domingo (27), Temer anunciou a redução de R$ 0,46 no litro do diesel por 60 dias. A Medida foi anunciada após nova reunião em Brasília com representantes do movimento. Temer anunciou ainda isenção de pedágio eixos suspensos em entradas federais e estaduais.
Na manhã de segunda-feira (28), representantes dos caminhoneiros e dos agricultores de Santana do Livramento, estiveram no estúdio da RCC para uma entrevista. A categoria não aceitou a última proposta do Presidente e a paralisação continuou no trevo da Faxina. Os manifestantes continuaram de forma pacífica e estavam liberando veículos de saúde e cargas vivas.
Agricultores também estavam sendo prejudicados e a pauta era a mesma dos caminhoneiros. “Não aguentamos mais os tributos que estamos pagando, a agricultura está passando por uma dificuldade muito grande”, diz o representante da classe.
De acordo com Fabricio, a proposta de redução de 46 centavos não chega na bomba para o consumidor. Chegam apenas 29 centavos. Manifestantes diziam que essa luta era uma batalha que começou pelos caminhoneiros e agora estava em cada cidadão. “A população tem que sair e mudar o país. Vamos sair da nossa área de conforto, a partir desse momento todos nós somos caminhoneiros. Uma luta justa pela segurança, saúde, educação, segurança, enfim”, diz Fabricio.
Aulas canceladas na rede municipal e estadual
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) orientou as Coordenadorias Regionais de Educação (CRES), a suspenderem as aulas na segunda-feira (28), em toda a rede pública estadual, devido à greve. A Secretaria ressaltou, no entanto, que nenhum aluno ficaria prejudicado, já que as aulas seriam totalmente recuperadas oportunamente. Na terça-feira (29) as escolas da rede pública estadual retornaram ao seu funcionamento normal.
A Gestão da Uergs cancelou as atividades acadêmicas em todas as 24 unidades desde segunda-feira (28) até hoje (2). As direções regionais e as chefias de Unidade ficaram de plantão pelos telefones ou na própria Unidade. Na Reitoria, as chefias cumpriram expediente em regime de excepcionalidade, para que não tivesse prejuízos. As atividades serão recuperadas posteriormente, com ajustes no Calendário Acadêmico. Na Reitoria, as atividades administrativas ficaram mantidas nos dias 29 e 30 de maio. As atividades letivas e administrativas deverão ser retomadas regularmente na próxima segunda-feira (4).
A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) também comunicou a suspensão das atividades acadêmicas e administrativas desde segunda-feira (28), em todas as unidades, nos três turnos, as quais serão recuperadas e compensadas em outra oportunidade. Apenas atividades administrativas essenciais estiveram mantidas. A Universidade orientou as chefias dos servidores docentes e técnico-administrativos a organizar a manutenção das atividades essenciais e a relevar eventuais atrasos que pudessem ocorrer devido às limitações de mobilidade.
Nos dias 29 e 30 de maio, também foram suspensas as aulas de graduação e pós-graduação, devido ao desabastecimento de combustível, mudanças no transporte coletivo, dificuldade de mobilidade e falta de insumos. As atividades administrativas nos dez campi e Reitoria ficaram mantidas nas condições e circunstâncias possíveis, bem como o calendário acadêmico da Educação a Distância.
Reflexos na saúde, gás de cozinha e coleta de lixo municipal
De acordo com a coordenadora de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia, Larrisa Kelbouscas, durante a greve ainda tinham medicamentos no hospital, mas se durasse por mais tempo poderia faltar principalmente soro fisiológico, porém alguns medicamentos poderiam ser comprados na cidade mesmo, ajudando com que não faltasse para os pacientes hospitalizados.
A procura por gás de cozinha no município também foi intensa, o produto terminou no estoque de todas as revendas, mesmo assim os revendedores fizeram questão de atender as ligações e explicar para os clientes sobre a falta.
Apesar de ter sido comunicado à população santanense que, enquanto não terminasse o movimento de paralisações dos caminhoneiros, não haveria recolhimento de lixo, a cena se repetiu: o lixo se acumulou nas proximidades dos containers espalhados pela cidade.
Na manhã de terça-feira (29), o registro foi feito na esquina da Rua Rivadávia Correa e Av. Almirante Tamandaré. As pessoas continuaram descartando os resíduos mesmo não havendo o recolhimento. Em comunicado, na semana anterior, a empresa Ansus solicitou que o lixo fosse armazenado nas residências dos fronteiriços. Em função da greve dos caminhoneiros e do bloqueio das rodovias, a empresa não conseguiu transportar o lixo para fora da cidade, impedindo que mais resíduos fossem armazenados.
Coleta de lixo retornou à normalidade
Na quarta-feira (30), a partir das 13h30, o recolhimento de lixo voltou a normalidade em Sant’Ana do Livramento. O itinerário continuou o mesmo, correspondendo às regiões da Vila Nova Livramento, Queirolo, Mallet, Bairro Divisa etc. No feriado e nos dias posteriores a coleta foi realizada normalmente.
Transporte coletivo funcionou em horários reduzidos
Durante os dias de paralisação, os ônibus estavam funcionando em horários reduzidos. De segunda a sexta, funcionava das 7h às 9h30min,após os carros retornam para a garagem (ficando sem transporte) retornando às 12h até as 14h, após as 14h ficavam recolhidos para a garagem retornando das 18h às 20h30min. Sendo esse o último horário noturno. No feriado e nos domingos não teve transporte coletivo.
Na manhã de ontem (1), a população sem informação ainda aguardava ônibus nas paradas da cidade. Alguns cansados de esperar chamaram táxi para cumprir com seus compromissos.
Caminhões partiram de Livramento para carregamento de combustível
O Exército Brasileiro (7º RC Mec e 2ª Bia AAAe), a Policia Rodoviária Federal (11ª DPRF), a Brigada Militar (2º RPMon) e a Polícia Civil (DRPC), realizaram a segurança e o transporte de 19 caminhões (combustível/gás) para os municípios de Butiá, Cachoeira do Sul, São Gabriel, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Quarai. Somente para Livramento foram destinados 10 caminhões.
Esta ação, inserida na missão de abrir e garantir rotas de segurança para trânsito de mercadorias e pessoas atuou sobre os eixos rodoviários das BR 158 e 290, mantendo o fluxo logístico livre entre Santana do Livramento e a região metropolitana de Porto Alegre. Este foi mais um exemplo de operação interagência envolvendo o Exército Brasileiro e os Órgãos de Segurança Pública federal e estadual.
Na quinta-feira (31), os caminhões chegaram aos postos do município, destinado de forma prioritária para abastecimento de ambulâncias, veículos da segurança e do município, além dos veículos do transporte coletivo e dos caminhões da coleta de lixo. A partir de agora, os postos de combustíveis estão funcionando normalmente.
Fim da paralisação
Caminhoneiros encerraram a greve em vários pontos do Brasil na quinta-feira (31). No acordo, o governo adotou medidas para reduzir em R$ 0,46 o preço do litro do óleo diesel nas refinarias. O valor ficará sem reajuste por 60 dias e, após, será reavaliado a cada mês. Ficou acertado que a União vai compensar eventuais prejuízos da Petrobras.
Para viabilizar a redução do litro do combustível, o governo decidiu acabar com benefícios para a indústria química, quase eliminar incentivos para exportadores e cancelar parte de gastos de uma série de programas públicos.
O subsídio para o preço do diesel custará R$ 9,58 bilhões e equivale a uma redução de R$ 0,30 no preço do litro do combustível. Para conceder o desconto adicional de R$ 0,16, o governo contou com a reoneração da folha de pagamentos, já aprovada pelo Congresso Nacional.
Por: Lauren Trindade
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